sábado, 19 de dezembro de 2009

Por que cagam tanto os espanhóis?

Olha, vocês me desculpem a grosseria, mas logo vão ver que não se trata do que estão pensando. Em tempos de Natal na Catalunya (e sobretudo em dias de limpeza hepática!), o tema “cagar” vira uma verdadeira obsessão para todos os lados.

Normalmente, no dia-a-dia, os espanhóis se cagam em tudo. Se estão de mau-humor se cagam no leite, no mar, na sua mãe, na sua família inteira (ou na própria), e ainda tem os mais hereges que resolvem chocar cagando na hóstia consagrada, na Virgem Maria ou em Deus. O nosso tradicional PQP e outras expressões típicas de explosão de nervos ou de simples desabafo, aqui viram um “me cago en la leche!”, “me cago en ti!” e por aí vai descendo a ladeira à medida que cresce a gravidade do assunto.

Além disso tb usam o verbo cagar para outros significados, como estragar alguma coisa, se acovardar, errar feio, ou para adjetivar uma coisa muito boa: “un coche que te cagas”.  E esses você encontra no dicionário da Academia Real de Letras! Tá certo que em português a gente também usa essa expresssão com alguns desses significados, mas o negócio aqui não fica só nisso…

No Natal da Catalunya, uma coisa que acho fantástica é que quase não se vê a figura do Papai Noel. Aqui eles levam muito mais à sério a tradição cristã da data do 25 de Dezembro como dia de nascimento de Jesus. E os presépios são super tradicionais. Vários tipos, inclusive com várias cenas, muitas delas de cotidianos campesinos. E é aí que entra a primeira bizarrice escatológica natalina: o Caganer, que é uma figurinha quase sempre presente nos presépios, que aparece em algum cantinho agachada cagando!!! Uma justificativa que dá a Wikipedia, que eu acho que é queixo para explicar essa cagada sem explicação, é que alguns sugerem que o ato de deixar fezes no solo representa uma fertilização deste (!!!). Me poupe! A coisa é tão séria que já se fazem caganers com carinhas de personalidades famosas local e mundialmente. Olha só quem encontrei cagando por aqui…. A pergunta é: fazendo merda ou fertilizando???



Seguindo com a caganeira… o dia de presentear aqui não é na Noite de Natal e sim na Noite de Reis (06/01), que é quando os Reis Magos visitam Jesus e lhe presenteiam. O que aqui acontece na noite de Natal é uma ceia com a família e, para as crianças, a brincadeira é uma outra esquisitice chamada Caga Tió, que é um pedaço de tronco com carinha e patinhas. Olha que simpático:



No dia da Imaculada Conceição, 08/12, os bichinhos são feitos ou comprados e as crianças, desde então até a noite de 24, o alimentam, põem uma mantinha para ele não ficar com frio, enfim, fazem dele seu Tamagoshi. Na noite de Natal os adultos dão às crianças bastões de madeiras, que devem ser aquecidos na cozinha ou em outro cômodo, para fazer o Tió cagar doces, balas, guloseimas em geral. Enquanto saem os guris, os adultos levantam a mantinha e escondem tudo embaixo do pobre do tronco sem que a criançada se dê conta. Quando retornam, começa a sessão tortura com a criaturinha que foi cuidada com tanto amor e interesse durante os 16 dias anteriores. Com os bastões as crianças judiam, espancam, torturam o coitado do Tió cantando:

Caga tió
ametlles i torró
(amêndoas e torrones)
no caguis arangades (não cagues arenques – um tipo de massa)
que són massa salades (que são muito salgadas)
caga torrons
(cague torrones)
que són més bons
(que são mais gostosos)
Caga tió
ametlles i torró
(amêndoas e torrones)
si no vols cagar
(se não queres cagar)
et donaré un cop de bastó
(te darei um golpe de bastão)
Caga tió! 



A criatura nem tem chance de escolher se vai cagar ou não. Apanha de qualquer jeito. Quando acaba a musiquinha se tira a mantinha e lá embaixo do Tió estão todas as guloseimas cagadas, que são afoitamente devoradas sem direito a uma assepsia prévia. Quando uma criança se dá conta que não é o tronquinho que caga e sim a mamãe que pôs o docinho ali, se produz uma decepção semelhante à descoberta que Papai Noel não existe. Que coisa, hein?


Perguntei a uma catalana o por quê dessa aficção no cocô. Ela deu de ombros e me disse: "É que somos escatológicos mesmo"! Bom… se ela diz… quem sou eu para discutir?

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Brrrrrrrrr....

Ok, ok… muitos de vocês que estão aí no hemisfério sul vão me dizer que gostariam de estar aqui no meu lugar, mas na moral… passar frio é ruim demais. Ainda estamos no fim do Outono e as temperaturas já anunciam o que vem pela frente. Para uma baiana nascida e criada em uma cidade onde só existem duas estações (sol e chuva), vivenciar as mudanças de estações de verdade tem sido, no mínimo, interessante.

Cheguei num fim de inverno, vi o início da primavera – a cidade pouco a pouco se enchendo de flores, ficando colorida, o calorzinho se aproximando, os corações se aquecendo; passei pelo verão – calor infernal, até o limite do suportável, pessoas eufóricas e com pouca roupa (ou nenhuma, em algumas praias); conheci o outono – desses com folhinhas de vários tons de amarelo e marrom, princípio do recolhimento da cidade pós festas de fim de verão; e agora tô prestes a ver o que é inverno de verdade (inverno da Espanha, é claro).

Essas mudanças de temperatura, paisagem e humores trazem ao ano um colorido que até então desconhecia. Parece que fica mais curto quando é tão bem divididinho. A mim as mudanças que cada estação imprime no cotidiano, tanto comportamentais quanto psicológicas, dão a sensação de que o dia-a-dia corre menos risco de cair na rotina, de tornar-se entediante. Será? Ou é só uma visão romântica de estudante internacional de primeira viagem? O fato é que é tá tudo novo para mim: o rodízio das peças de roupa no armário (até março as camisetas podem ficar estocadas), as alterações na alimentação (adeus ao gazpacho e “veeeenha!” ao chocolate quente!!), as horas necessárias de sono (de 9 para lá!), o ritual antes de sair de casa (bota, casaco, outro casaco, luva, cachecol, gorro), o desespero na hora de sentar na privada gelada (veeelho… que horror!)…

O presentão que ganhei com a chegada do frio foi um espetáculo natural na minha janela, toda tarde. À hora do pôr-do-sol se pode escutar, em cada canto da cidade onde haja uma árvore, uma legião de passarinhos loucos gritando. De frente para janela do meu quarto tem uma dessas. Acho que eles fazem festa porque gostam do frio. Se encontram, batem o maior papo, combinam a coreografia e então começam a dançar. Desfrutem de um pouquinho del Baile de los Pajaritos desde mi ventana!








quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

<3 MPB <3

Hoje tive um amostra daquela sentimento nostálgico-patriota que ataca todo aquele se passa um tempo longe do seu país e tem a oportunidade de vê-lo de longe e compará-lo um monte de novas referências.

Conversando com um colega colombiano sobre amenidades surgiu o tema da imagen feminina vulgarizada e sei lá por quê (aliás… graças a um papo virtual inacreditável com JR!...kkk) me veio logo à mente imagens das bundas do É o Tchan! Como um bom latino, o cidadão ficou super interessado em conhecer o produto descrito. Acabada a janta corremos pro You Tube (ave You Tube!) e tive o desprazer de encontrar algumas pérolas medonhas, como um programa do Sílvio Santos no qual a banda e as dançarinas ensinavam a um grupo de crianças a dançar na boca da garrafa… sem comentários (pq senão acabo mudando o tema do post).

Bom… Depois de tamanho deserviço me senti obrigada a mostrar um pouquinho mais do que temos na música brasileira. Pegando o gancho do pagode, comecei a mostrá-lo algumas coisas de samba (tão famoso e adorado pelos europeus) e suas variações, até onde minhas limitações me permitiram, é claro. Passei por Paulinho da Viola, Clara Nunes, Beth Carvalho, Riachão, alguma coisa de escola de samba do Rio, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Fundo de Quintal e umas porcarias aí, só para mostrar as diferenças. Depois, sem critério metodológico algum, apenas guiada pela emoção, acabei pulando para Elis, Bethânia, Gal, Doces Bárbaros, Chico, Tom, Vinícius, João Gilberto, Mutantes (sempre cantando tudo junto com muita intensidade...rsrsrs), coisas da Jovem Guarda, Marisa Monte, Maria Rita, Paralamas, Engenheiros, Legião, Calypso (kkk!), voltamos à Bahia com o arrocha (uhu!), depois Daniela Mercury, Brown, Ivete e acabamos no Chicletão! Um percurso para lá de inusitado, mas delicioso de ser exibido como novidade.

Isso tudo deve ter levado no máximo 1h e meia. Nesse tempo me vi tão feliz, tão orgulhosa de estar apresentando a nossa variedade musical… (até mesmo o lixo!). Principalmente pelas reações dele, que já conhecia alguma coisa da música brasileira, mas não tinha a dimensão dessa riqueza… Achou até que eu era grande conhecedora do tema e ficou impressionado quando falei que o que sei e me limitei a mostrar era muito básico.

Saí de lá feliz, cantarolando “Agnus Sei”, “Eu te Amo” e “Olhos nos olhos”, até que cheguei em casa. Sem pestanejar me pus a baixar músicas que me dei conta que ainda não tinha no computador e que considero fundamentais para a vida de qualquer um que descobre que a nossa música é a melhor do mundo.

Aaaaaaaah... eu acho!! Rs.