quinta-feira, 30 de julho de 2009

Língua

"- Carla, lá na Espanha falam o quê? Inglês?
- Não, Dona Dira, espanhol.
- Ahhh... e o que é mais fácil? Inglês ou espanhol?
- Pra gente que fala português é mais fácil entender o espanhol.
- Que coisa, né? Todo mundo devia era falar a mesma língua, né não? Aí não ia ter essa complicação toda..."

Calei. Nunca tinha pensado nessa hipótese. Engraçado perceber que quanto mais informação, menor a capacidade de abstração. Naquele dia passei algumas horas pensando em como seria o mundo se todo mundo falasse a mesma língua. Pensei na colonização do Brasil, na argumentação dos índios durante uma tentativa de catequização. Pensei na relação da língua com a cultura de cada lugar e me apavorei com a idéia de uma globalização pré-histórica. Pensei nas origens dos sotaques. Cantarolei um trechinho da música "Língua" de Caetano e não consegui imaginar como ficaria a noção de pátria. Pensei na origem da lingua falada e nas múltiplas linguagens que o ser humano é capaz de desenvolver. E em mais uma meia dúzia de divagações até cansar e me distrair com alguma outra coisa.

Mas que viagem, Dona Dira!! Ói, me deixe, viu?...

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Fechar ciclos ou Abrir portas?

Sempre me custou um pouco fechar coisas. Em algum momento da vida comecei a estudar piano, violão, canto, flauta, dança flamenca, catalão, pratiquei basquete, natação, remo, musculação, aeróbica, yoga, meditação… O que todos estas atividades têm em comum? O fato de eu não ter dado continuidade a nenhuma delas depois do terceiro mês consecutivo de prática. Tem aquela que deixei na segunda semana, outra que resistiu até um mês, outra que até prolonguei por um ano, mas sempre dando um intervalinho básico. O curioso é que em todas elas, até onde me permiti ir, me senti bem e tive bom desempenho, com exceção bem grande do curso de catalão (ui!). Daí se pode concluir muitas coisas. Uma delas, é que não sou lá muito disciplinada e isso eu mesma já tinha contado aqui antes. Outra conclusão possível é a de que sempre quero muitas coisas, mas nunca sei na verdade para onde apontar. Ou que me entedio das coisas muito rapidamente. Ou que não tenho mais o que fazer e fico inventando arte (ihhh…acabo de lembrar da faculdade de teatro que também nao terminei…). Fico com a interpretação que diz que sou muito hábil em abrir portas, mas uma declarada incompetente em fechar ciclos.

Como boa pisciana nostálgica, pensar em terminar coisas já me dá aquela dorzinha de barriga que acusa o nervosismo. Só para se ter uma noção do tamanho da doença, tenho alguns livros lidos só até o início do último capítulo, alguns potes com cosméticos inacabados…hahaha…. E na vida prática, quando o fim é inevitável, é um tal de chororô, tristeza, melancolia, um vazio… vixe… uma presepada.

Por outro lado, começar coisas me excita na mesma proporção que me amedronta. E penso que por isso mesmo me instiga mais ainda. Quero, necessito, amo o novo. E de novo. E de novo. E sempre.

Hoje compreendo que essa inconstância faz parte de uma busca e que cada pecinha tem sua importância na construção de um caminho. O esforço então passa a ser o de construir um caminho feito de polilinhas fechadas… (hahaha… piada interna). Acho que depois que passei a enxergar isso passei a me expor cada vez mais a ciclos curtos. Em cada vez menos tempo faço cada vez mais coisas e, como consequência, sou obrigada a lidar com o fim delas.

Pois bem... esse post coroa mais um ciclo que se encerra. Também este post é parte de uma presepada nostálgica.

Em pouco menos de cinco meses conheci pessoas, me identifiquei, viajei, ri, me entediei, tentei fugir, chorei, resisti, sofri, disfrutei, me encantei. E me despedi. Alguns rostos seguramente não verei mais. Outros farei o possível para reencontrar. Com alguns certamente falharei. O que passou vai pro baú das recordações, mas não sem antes se lambuzar com duas ou vinte duas lagriminhas de saudade antecipada. Agora é momento de arrumar a casa para dar espaço pro tão desejado novo.