domingo, 21 de novembro de 2010

Ave, Gonzaguinha!

Caminhos do coração
Composição: Gonzaguinha

Há muito tempo que eu saí de casa
Há muito tempo que eu caí na estrada
Há muito tempo que eu estou na vida
Foi assim que eu quis, e assim eu sou feliz


Principalmente por poder voltar
A todos os lugares onde já cheguei
Pois lá deixei um prato de comida
Um abraço amigo, um canto prá dormir e sonhar


E aprendi que se depende sempre
De tanta, muita, diferente gente
Toda pessoa sempre é as marcas
Das lições diárias de outras tantas pessoas

E é tão bonito quando a gente entende
Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá
E é tão bonito quando a gente sente
Que nunca está sozinho por mais que pense estar

É tão bonito quando a gente pisa firme
Nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos
É tão bonito quando a gente vai à vida
Nos caminhos onde bate, bem mais forte o coração


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Per a Tarragona, amb amor

Em posts anteriores já falei um pouco da minha relação com os lugares pelos quais tenho passado, do quanto cada um deles mexe comigo e trazem informações novas ou velhas recordações. E compartilho por supor que você também passe por isso; por compreender que em cada lugar por que passamos (cidades, bairros, casas) ficam registradas as sensações do que nos acontece naquela fração de tempo (ano, meses, dias, horas). Você também sente assim?

Pra mim isso é tão inevitável que, ao percorrer um caminho pela segunda vez, sou capaz de lembrar de pensamentos ou do ponto exato de uma conversa que tive com uma pessoa ao passar antes por esse mesmo trecho de cidade. Loucura. Às vezes acho que não é a minha mente que guarda essas informações e, sim, que são os lugares que têm memória. E quando passo outra e outra e mais outra vez pelo mesmo lugar, é como se ele fosse aos poucos ganhando contornos novos. O lugar já não é o mesmo, agora ele está impregnado das minhas vivências. E eu, dele.

É assim como me sinto em relação à Tarragona. Relendo posts do período em que me mudei pra lá, há pouco mais de um ano atrás (como este: "Recomeçando"), recordei a sensação de chegar sozinha numa cidade desconhecida. Também recordo a estranheza incial de ir viver numa cidade tão pequena, e, logo depois, da prazerosa descoberta das maravilhas de não precisar usar transporte público pra andar pela cidade e da delícia de poder caminhar tranquilamente pelas ruas a qualquer hora do dia e da noite.
Mais do que seus atributos como cidade (que não são poucos), Tarragona marca um período. Um ano de reclusão, de solidão prazerosa, tempo de por à prova aquela máxima minimalista que diz que “menos é mais”. E dentro do meu ashram particular, pouco a pouco fui criando um mundo que escapava à compreensão de qualquer ser exógeno que por ali se aventurasse.

A roda da vida girou e me trouxe de volta a Barcelona. De volta à agenda do corre-corre, à vida social intensa, ao ritmo frenético inerente a qualquer cidade grande (no caso de Barcelona, cidade pequena com vida de gente grande). Sem traumas... essa dinâmica eu conheço bem.

Mas Tarragona ficou. Na nostalgia dos dias de aprendizado intenso, dos passeios noturnos sem rumo, dos dias inteiros de silêncio guardado; no perder-se pelas ruas estreitas do charmoso centro histórico, nas horas incansáveis de contemplação da beleza do anfiteatro romano em frente ao mar que me lembra a Baía de Todos os Santos, ainda mais lindos de ser ver à noite; nas tentativas desesperadas de aquecer os pés nas noites de inverno dentro daquele quarto gélido; no quebrar das ondas e no cheiro do mar da Cala Romana em pleno verão; no calor das amizades que pertencem a esse lugar e a esse momento, e, também por esta razão, estão guardadas com o mesmo cuidado e amor que residem nestas lembranças.

Se Veneza é minha cidade sonho, Tarragona é minha cidade descanso.
Se Salvador é minha cidade real, Tarragona é minha cidade etérea.
E Barcelona que me perdoe, mas se hoje alguma parte do meu coração é catalã, não há dúvidas, ela é tarraconina.  
Pros que ainda não conhecem a minha musa, aqui tenho algumas fotos dela: Álbum de Tarragona no Picasa