quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Neu per tot arreu

Geeeente... esse fim de semana passei por umas cenas dignas de registro.

Tudo começou quando Vívian, meu porto brasileiro em Tarragona, foi convidada a tocar numa festa nos Pirineus e me chamou pra ir de acompanhante. “Festa num albergue láááá nos Pigmeus??” – brinquei – “Nem pensar!! Imagina se vou me meter num lugar que eu não possa voltar pra minha casinha quando encher o saco...”. No dia seguinte ela voltou a tocar no assunto, mas deu informação nova... O lance era passar o fim de semana nesse lugar que era um refúgio nas montanhas, num evento organizado por um grupo, com vários pequenos acontecimentos, dentre os quais já estava confirmada a presença da neve... Uhhhh... a história mudou de figura... a tabaroa aqui tava doida pra conhecer a neve. Nem precisou voltar a insistir no tema. Topei.

Pois bem... fui de carona com uma mulherada que já me deu o termômetro da coisa... só rolava catalão! No fim de semana estivemos na casa algo em torno de 30 a 35 pessoas, dentre as quais no máximo 5 não falavam a língua. A verdade é que já entendo bastante, mas a dose foi tão intensa que me surpeendi um momento pensando em catalão!!! Aixó mateix! Uff...

Bom, pra não me alongar muito vamos logo aos fatos legais:

- Na sexta de noite já tive a oportunidade de ver um pouco da neve, passeando nos arredores do albergue. Já fiquei toda besta, tocando nela pra sentir a textura.

- No sábado de manhã me convidaram pra um “passeio” numa montanha. “1h e meia de subida”, me disseram. Pensei nas trilhas da Chapada Diamantina e achei que dava pra encarar... Pois bem... Meire e Mateus vão saber bem do que estou falando: me senti exatamente como na ocasião em que nos levaram pra uma escalada no Pão-de-Açúcar. Ou seja... se soubesse o que me esperava provavelmente não tinha ido. O destino era o Pico da Galinha Pelada, com cerca de 2350m de altura. Velho!! Subir não era o problema... o que a anta aqui não tinha se dado conta era que ia subir na neve...e em várias consistências diferentes...aquela que afunda do pé até o joelho, aquela que desliza, aquela que você tem sair chutando pra fincar a ponta dos pés.... ao nosso redor passavam vários grupos super equipados com esquis e tudo mais... e nós... só na botina. Eu era deliberadamente a lesma do trio. Ia bem atrás e caindo o tempo todo. Até que me arranjaram uns pedaços de pau pra ver se eu me agüentava de pé... Me senti meio Guiodai-dai-daaaai!


A paisagem era essa feinha aí... mas o cansaço era tanto...que agora pelas fotos tô aproveitando mais...kkkk. Tinha horas que eu olhava pra baixo e via um despenhadeiro de neve... pra cima era um paredão... E agora José? Bola pra frente... tirei força foi da juba mesmo, que nem Sansão. Enquanto subia os trechos mais inclinados só ficava pensando... meu Deus...como vou descer isso??? Pois essa foi a melhor parte! Praticamos o que chamamos de “culing”, ou seja, foi à base do sky-bunda mesmo e de mais uma dúzia de quedas divertidas. Na volta, a bunda e os pés molhados e congelados foram uma diliça... imagine!

- Quando voltamos ao albergue estava quase tudo pronto pra minha primeira Calçotada!! Os calçots são um tipo especial de hortaliças que só se encontram na Catalunya. Essa foi a versão de brincadeira que um catalão me orientou pra explicar o que é quando me perguntassem... Mas a verdade é que os calçots são uma versão subdesenvolvida da cebola misturada com cebolinha... Bem... seja lá o que for, esse negócio, assado na brasa e melado numa salsa chamada romesco...uhhhh... é viciante. E reza a lenda que o negócio é comer se sujando todo... bem ao estilo lambuzento do catalão. Nessa época do ano pipocam calçotadas por toda Catalunya...é que nem caruru no mês de setembro...kkkk.


Obs.: Por falar em lambuzento... acho que da sexta ao domingo só eu e no máximo mais 3 pessoas tomamos banho.

- Ao acabar de comer a calçotada, uma surpresa nos esperava lá fora... caía neve!! Fininha, mas caía... a tabaroa fez a festa!

- À noite, numa tenda montada do lado de fora, música catalana de taberna, da melhor qualidade. Foi divertido. Olha aí um trechinho:


- Mais tarde foi a vez de Vívian com a bossa nova, mas não tem registro pq eu tava no chocalho e no backing vocal...kkkk. Ahh...cabe ressaltar que lá fora fazia uma lua cheia “que te cagas”.

- No dia seguinte me custou um pouco sair da cama... o corpo não respondia depois da escalada do dia anterior. Como íamos embora pela tarde, fizemos um passeio curto no povoado de Gósol, voltamos pra almoçar, sentimos que estava ainda mais frio e então... mais neve caiuuu!!! Só que dessa vez... não era fininha não! Era nevascaaaaaa... Em alguns minutos toda a paisagem embraqueceu. Veja o antes e o depois...
 


E olha a tabaroa aí como ficou:


Resultado: toca o povo a correr pros carros pra se mandar, porque se a neve piorasse ficava difícil sair de lá... Quando entramos no carro da nossa carona... Suprise! Não havia bateria! Depois de várias tentativas frustradas, empurradas de carro em meio à nevasca e outras bagaceiras mais, resolvemos voltar pro albergue e esperar pelo resgate da seguradora no dia seguinte. Aaahhhh... que chato!

Na segunda, caminhamos até povoado e ficamos de “semi-hóspedes” num restaurante por algumas horas até sermos finalmente resgatadas. As meninas eram muito bem humoradas e, embora estivessem no quarto dia sem tomar banho, eram boas companhias e nem cheiravam mal.

Ui... Depois da overdose cultural catalana, bom mesmo foi chegar em casa e ouvir Arnaldo Antunes. Tarragona já nem parecia tão fria. E meu desejo de conhecer a neve já estava mais que saciado. Aliás, até agora tenho neve até no... juízo.

Um comentário:

  1. AHuaha!
    adorei a história. =D
    bom saber das novidades dai.
    Continue aproveitando muito!
    bjo!
    saudade...

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