terça-feira, 7 de abril de 2009

O porteiro catalão e a estudante estrangeira

Segunda semana em Barcelona. Tô eu procurando onde ficava o curso gratuito de catalão oferecido pela prefeitura, cujo endereço é Praça Catalunya, 9. Rodei, rodei e não achei o tal número, até que entrei por uma das ruas que tangenciavam a praça e encontrei uma edificação de número 9. Já achava que não seria lá, mas pelo menos toquei na portaria para ver se alguém me informava alguma coisa. Foi quando me apareceu o porteiro catalão e, no ritmo que chegou nem me deixou abrir a boca e foi logo engatando sua fala (em espanhol, é claro): “ Antes que vc pergunte… não! Não é aqui. O que vc procura é Praça Catalunya número 9. E vou ter dar uma aula gratuita.” Eu fiquei ali parada, com a boca entreaberta, ainda tentando dizer alguma coisa e já xingando ele em pensamento de grosso. Mas ele continuava: “Uma praça é uma coisa redonda ou quadrada” – e desenhava com a ponta dos dedos as formas – “Entendeu? Isso aqui não é uma praça, isso aqui é uma rua” – e desenhava no ar como era o traçado de uma rua. Velho… eu queria voar no pescoço dele e encher aquela careca de tapas. Vai querer me ensinar a diferença entre rua e praça? “Agora, preste atenção… nesta cidade toda a numeração das ruas é divida em lado par e lado ímpar. Este lado daqui é ímpar. Logo ali do outro lado da rua teremos o número 10 e aquele lado todo ali é par. E além disso a numeração é dada de acordo com o comprimento da fachada das edificaçães, de modo que um edifício muito comprido pode ter mais de um número.” E seguiu a explicação. Com isso eu até esqueci da raiva daquele sacana e achei a interesante a maneira como ele estava me ensinando a me situar nas ruas, coisa que hoje me é muito útil. Daí ele explicou que a numeração em praças era diferente das ruas, porque era sequencial e depois de alguns minutos de aula acabou me mostrando onde ficava o tal prédio que eu procurava, ainda de uma maneira peculiar e levemente irritante. Depois me disse, já quase sorrindo que eu era a oitava pessoa a perguntar aquilo para ele naquele mesmo dia e que até o fim do seu expediente outras seis deviam fazer o mesmo, pois isso acontecia todos os dias. Quando falou isso eu até fiquei com dó do bichinho. No fim das contas rimos juntos, eu agradeci a “gentileza” e saí me perguntando se era essa a grosseria espanhola que tanto me amedrontava… à maneira dele o cara me deu mais que uma informação, foi mesmo uma aula.
Quando contei isso em casa, Johnny sugeriu que eu fizesse um mapinha e levasse de presente pra ele prender na portaria do prédio e poupar tanta explicação. Fiquei até com vontade de fazer… mas depois imaginei o quanto ele já deve ter aperfeiçoado aquela historinha contada diariamente, com tanto prazer, para cada estrangeiro que aparece ali na porta. De jeito nenhum… ao invés de poupar ele desse momento triunfal, prefiro divulgar a história para que outros vão lá pedir informação só para conhecer essa figura tão pitoresca.

5 comentários:

  1. Me acabei de rir aqui lendo a história.
    =D
    adorei!

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  2. Só uma retificaçãozinha... a grosseria é catalana e não espanhola. Os catalães odeiam qdo chamam eles de espanhóis.. rs. E além disso, em outros lugares da Espanha que fui, não encontrei nenhuma grosseria, muito pelo contrario.

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  3. Oi Prima!!!!! gostei muito da sua interpretação da situação... Constantemente me deparo com determinadas reações e me pergunto.... PORQUE???
    Tudo de bom para vc!!!!
    bjssss
    Fabi

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  4. Menina bunitah! Enfim visitei o seu Blog e estou adorando! Muito pitoresca a história da Plaza que acabou virando Calle...hehehe! Mas é isso aí! Não deixe de procurar a Plaza porque acho que o porteiro catalão ensinou muito mais do que se tivesse dito apenas o que vc precisava nequele momento, esta é a magia do "estar aí" não é mesmo?

    Vc é amiga do Jonny? kkkk ele é amigo do Ariston (primo do Pinho - meu marido) e devemos conhecer outras pessoinhas em comum então... Que legal! Vai rolar Hot dog festival por aí também? rs...

    Boa sorte para vc! Já te adicionei nos meus favoritos, ok?

    Beijos! Milla.

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  5. esse deveria virar conto, imagino tua cara falando om ele, fitando ele nos olhos e dizendo com os olhos em chamas (fila da puta!!!!) sem que ele perceba... e depois se amansando e ainda conseguindo soltar um sorriso verdadeiro pra ele no final.
    vc é uma peça carlinha
    tô participativo aqui, viu só?!
    beijos

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